domingo, novembro 12, 2006

Diário da Tua Ausência (II)
(Margarida Rebelo Pinto)

"Apetece-me ir-te buscar e resgatar-te para a terra onde o sol brilha quase todo o ano e o mar é azul, mas fico quieta, à espera que os bons ventos da mudança te tragam um dia. E da minha janela encantada onde os dias se colam uns aos outros como num sonho azul, lanço-te as minhas tranças como a Rapunzel, esperando que um dia passes por perto, montado num cavalo branco, vestido de príncipe, e me venhas visitar e contar-me ao serão como é o mundo lá fora e o que te fez voltar."

"Tinha vivido um sonho maravilhoso e agora via-me obrigada a acordar, por isso chorei sem vergonha nem pudor, chorei como choram as crianças quando vêem partir alguém que amam ou outro menino lhes parte o brinquedo preferido. A vida é um sonho, é o despertar que nos mata."

"O amor é misterioso no seu nascimento, ainda mais misterioso no seu crescimento e insondável na sua morte. Durante semanas e semanas continuei a amar-te e a desejar-te, mesmo sabendo que não podia existir uma ponte entre nós, mesmo sabendo que o fim do nosso sonho se anunciava como certo."

"E a verdade em que eu quero acreditar não é a de que não me amas, mas a que me diz que não sabes o que fazer com o nosso amor."

"(...) ambos sabemos que o que sentimos um pelo outro não é só paixão, tesão, desejo, sonho, encantamento, ilusão. Ambos sabemos e ambos já confessámos um ao outro que o que sentimos (...) pode, ou podia, ser o início de um grande amor. E, como acontece com todos os homens, essa possibilidade assusta-te."

"Tenho muitas saudades tuas. E saudades do tempo em que confiávamos um no outro e sentíamos que estávamos no mesmo barco, porque mesmo longe, queríamos ajudar, proteger e apoiar o outro em tudo, de uma forma incondicional e total, queríamos amar-nos e dar-nos um ao outro."

"(...) tenho o coração embaciado de dúvidas e o olhar desfocado pelo absurdo do teu silêncio continuado, o olhar de quem aprende a adaptar-se a uma luz desconhecida, a uma nova realidade."

"Quando o coração morre, morre sempre devagar. Vai-se desfazendo como as folhas das árvores que caem no Outono, folha a folha, até à última, tal como a esperança que um dia sucumbe à realidade e desiste."

"Acredito que, mergulhado no silêncio, conseguirás ouvir a minha voz que sempre te tocou e, apesar da distância, sentirás a minha cara encostada nas tuas costas e os meus braços à volta do teu peito amparando-te no teu caminho, o meu olhar protector e a pedir protecção, o calor do meu corpo encostado ao teu, e à nossa volta, como uma bênção divina, aquele véu de esperança que afinal nunca se perdeu."